Percebemos que, como sociedade, estamos pouco preparados para apoiar, de forma efetiva, as famílias que se debatem com as consequências de um diagnóstico clínico de infertilidade.
Já todos ouvimos falar de infertilidade enquanto diagnostico médico, mas a verdade é que as suas consequências podem ir muito além e ficam, muitas vezes, esquecidas.
Apesar das muitas mudanças que a sociedade tem vindo a sofrer, a gravidez e a parentalidade continuam a ser consideradas normativas e sobrevalorizadas, constituindo uma fonte organizadora e um importante objetivo de vida de muitos indivíduos e casais. O desejo de construir uma família, a idealização da família perfeita, os sonhos, as expectativas e todos os projetos de vida que haviam sido criados, dão lugar a diversas emoções difíceis de digerir e integrar nas vidas de todos aqueles que lidam com a infertilidade.
A infertilidade pode ser considerada uma crise de vida, frequentemente marcada pela presença de fatores que conduzem a elevados níveis de stress.
No espaço conjugal o impacto da infertilidade pode ser de tal modo vasto que interfere, de forma direta, em vários pontos da vida e dinâmica entre o casal. Os fatores, aqui protagonistas são, por exemplo: a imprevisibilidade quanto a ter/ não ter filhos biológicos; a ameaça de realização de tratamentos; a incerteza e a incontrolabilidade dos resultados dos mesmos; o seu tempo indeterminado e muitas vezes prolongado; a dificuldade associada à gestão das suas próprias emoções; a possibilidade de não ter filhos, entre tantos outros.
A nível social o impacto não é menor! Desconhecemos o peso da vergonha e do desconforto que nascem na sequência das perguntas relativas aos planos de procriação. Desconhecemos o impacto das frequentes comparações com outros casais com filhos. O comportamento que se propaga nos espaços sociais pode levar muitos casais, que lidam com processos de infertilidade, ao isolamento social.
Importa reconhecer que são vários os estudos que documentam os efeitos negativos da infertilidade no bem-estar psicológico das pessoas. A alteração do equilíbrio emocional pode levar, qualquer um, a experienciar estados de depressão, ansiedade, desorganização mental, tristeza profunda, perda de esperança, sentimentos de culpa, isolamento social e diminuição da autoestima. É por este motivo que a intervenção psicológica, aquando de um diagnóstico de infertilidade, pode revelar-se necessária e urgente! Seja numa perspetiva de acompanhamento individual, ou do casal. A par deste acompanhamento profissionalizado, um espaço social mais empático, menos invasivo, deverá ser construído e alimentado por cada um de nós.